- Gostava de ter jogado no Benfica 2009/2010?Gostava, se bem que no meu primeiro ano de clube joguei ao lado de grandes jogadores, a equipa fez um excelente trabalho na Liga dos Campeões e partilhei esses tempo com jogadores de elite. Mas o Benfica desta época foi criado para grandes conquistas e jogou um futebol que admiro muito. Revejo-me naquele tipo de futebol..- Chegou ao Benfica em 94, tinha o clube acabado de ser campeão. Iniciou -se, depois, uma fase conturbada, muitas mudanças de treinador... Percebeu depressa que só muito dificilmente iria ser campeão pelo Benfica?O Benfica não só manteve a equipa que foi campeã como a renovou. Fizemos uma boa campanha na Liga dos Campeões. Mas a partir de certo momento, houve uma alteração na política das contratações, o que tornou muito difícil a criação de um plantel competitivo. Foi uma fase muito complicada..- A maioria dos jogadores do Benfica nunca aderiu a Artur Jorge. Muitos foram os problemas de relacionamento entre treinador e atletas. Não foi o seu caso...Artur Jorge é um dos grandes treinadores do futebol português. Chegou ao Benfica com a imagem de rígido e disciplinador. Era essa a sua personalidade. Havia, sim, alguma dificuldade de aproximação e de comunicação. Penso que depois do problema de saúde, mudou, talvez porque tivesse passado a olhar para o mundo de outra maneira. Na minha carreira, foi um treinador muito importante. Marcou-me no Benfica e na selecção..- Seguiu-se a Juventus. Foi uma transferência improvável?Conseguir chegar ao Benfica foi uma surpresa, conseguir chegar ao Euro96, outra, portanto, estava habituado a surpresas. Tinha acabado de sair a lei Bosman, terminava contrato com o Benfica e a Juventus, após a lesão de um lateral-esquerdo, fez uma proposta. E um dia recebo um telefonema do meu empresário, Luciano d' Onofrio, para ir a Turim assinar. E foi a realização máxima da minha carreira. Participei em finais, alinhei ao lado de grandes jogadores..- O del Piero ainda joga...É um exemplo para qualquer jovem..- Como foram esses tempos de Itália?Para os italianos, eles e as coisas deles são as melhores do mundo. E quem chega é quase visto como um inimigo. Ainda bem que o Mourinho foi lá dar umas lições..- Foi praxado?Não fui bem praxado mas fui gozado, sobretudo por causa da comida. Certo dia pedi parmesão para por numa massa de peixe e pus uma mesa de 10 colegas a gozar comigo..- Acha que Mourinho sofreu por lá mais do que em Inglaterra?Não tenho dúvida. Em Inglaterra era visto como uma mais valia para o futebol inglês; em Itália, como uma ameaça..- Viu o abraço de Materazzi a Mourinho?Vi e é uma imagem muito marcante. Em Itália, há grandes rivalidades entre os clubes e nem sempre os protagonistas são os jogadores. Cria-se em cada balneário muita fraternidade. Talvez nestes dois anos de Itália Mourinho não tenha sido um homem feliz..- Porquê?Pela perseguição. Os ingleses apreciavam Mourinho; Em Itália, o sucesso dos estrangeiros não é desejado..- Jogou com ele no Vitória de Guimarães, foram transferidos para o Benfica no mesmo ano. Como vê a carreira do seu amigo Paulo Bento, que continua sem clube?A carreira do Paulo seguiu uma sequência lógica. Embora muito rapidamente, deu os passos todos, tendo em conta que já sabia que queria ser treinador. Esta época foi mal planeada e ele acabou por sair depois de ganhar alguns títulos. O meu palpite é que o Paulo tem estado à espera do melhor momento para escolher, porque quer escolher bem. Esteve vários anos num grande clube, sabe que neste momento, em Portugal, só poderá treinar os três grandes e que estes têm a porta fechada - o FC Porto ainda não a fechou, mas estará próximo de o fazer - , e nesse sentido, a curto prazo, o Paulo vai treinar no estrangeiro..- Foi campeão pelo Sporting com Boloni. Qual foi o segredo dessa época?A qualidade. O Sporting tinha uma grande equipa. Agora falta-lhe qualidade. Sem qualidade não se vai lá..- Que características melhor o definiam como jogador?O espirito de sacrifício. Para mim cada minuto valia tudo, era uma entrega máxima. Não era tão bom tecnicamente quanto outros mas era muito esforçado e batalhador..- Quer no Sporting quer na selecção foi substituído por Rui Jorge. Como viviam essa rivalidade?Nunca houve rivalidade Houve sempre um enorme sentido de lealdade..- Começou a carreira na Académica. É adepto do clube, treinado esta época por André Villas Boas. Este treinador está pronto para treinar o FC Porto?O André trabalhou com gente de muito conhecimento e implantou na equipa da Académica um futebol agradável. É evidente que um passo tão grande não é fácil de dar, mas ele já trabalhou no FC Porto- além disso tem 32 anos e, portanto, é natural que a comunicação social lhe dedique muita atenção. Mas há mais Villas- Boas espalhados por Portugal..- O que vai ser o seu futuro profissional?Nos últimos oito anos preparei-me da melhor forma. Afastei-me intencionalmente durante dois anos, mas o 'bichinho' voltou e agora estou pronto para arriscar de novo e preparado para assumir todos os desafios e todos os lugares no futebol. Neste momento sou agente de jogadores, mas não é bem a minha vocação. Sinto-me preparado para ser director desportivo ou para ser treinador - continuando na área da formação onde tenho a experiência acumulada na escola que dirijo no Inatel de Lisboa. O momento vai chegar, sei que já esteve mais longe. Tenho três ou quatro cenários, mas o que é para mim fundamental é ser tido como uma mais-valia. E a Académica está sempre no meu horizonte. Foi lá que me iniciei como jogador, posso voltar a ter lá um novo início.